Marianne
Certa vez li um poema de um poeta de Cunha, tinha um trecho que falava o seguinte: “O amor não é tudo - você disse...”/ Então o que é o nada?

Com poucas palavras ele soube falar muito. Cada vez que caminho pelas mesmas ruas na companhia de novas pessoas, noto que as ruas jamais irão mudar, não importa com quantas pessoas eu passe por elas. “O amor não existe”, me falaram uma vez, então o que existe? Se o amor não é tudo, ele deve ser o nada, mas se ele é nada, de certa forma ele é um tudo, o tudo que é vazio e ausente talvez, pois se o tudo não houvesse, como haveria a consciência do nada?

A minha solidão talvez irrite as pessoas, elas me tratam como se essa minha solidão fosse um câncer do qual eu não quero me curar. Mas a minha escolha está feita por uma profunda reflexão, as pessoas não amam o objeto do amor em si, porque elas não enxergam esse objeto, elas amam o desejo, o prazer, as vontades que esse objeto lhes proporcionam, mas o ser em si nunca é visto, é inalcançável, eles sabem que ali há algo, há um objeto que manifesta sentimentos neles, mas apenas pela sensibilidade, amam pela busca de prazeres que nunca são satisfeitos e por isso ficam aprisionados dentro desse ciclo infinito, trocando de objetos como trocam de roupas.

Ás vezes encontramos uma pessoa que se diferencia de outras, sabe aquela que te dá atenção mesmo estando atrasada para um compromisso, aquela pessoa que sorri quando te vê, que te ajuda quando você não é capaz de fazer isso, aquela pessoa que encontra o seu eu perdido e traz de volta para você? Aquela pessoa que você sente vontade de ver sempre, aquela pessoa que você passa pensando nela e sobre a vida dela a cada segundo do relógio sem se dar conta disso? Mas quando você se dá conta disso, então começa o problema, você descobre que está amando, e o desespero começa, a especulação em busca de informações sobre essa pessoa começa, e cada dia é uma angustia que acorda, repousa nos sonhos e volta com o sol. Você chora e não sabe bem o motivo, até que descobre que essa pessoa já tem alguém por quem ela vive da mesma maneira que você está vivendo, mas de uma forma diferente, o amor é mútuo.

E então um grande vazio se abre na alma, e você corre para um lugar aonde ninguém possa ver seus olhos, você senta na sarjeta e uma sombra vem ao seu lado e te diz: - Olá amiga, posso te fazer companhia?. Ela pergunta seu nome e totalmente culta fala: - Prazer, meu nome é Solidão.

Você encontra uma amiga que veio até você, ela não preenche seu vazio, ela é sábia, ela diz que o vazio nunca será preenchido, mas ela te ensina a aceitá-lo e as coisas se tornam mais toleráveis.

Drummond observou uma mulher e sua solidão, não como se fosse uma doença... Escreveu sobre ela:

“...Não me parecia criatura inquestionavelmente real; e por mais que aferisse os traços positivos de sua presença entre nós, marcada por gestos de cortesia e sociabilidade, restava-me a impressão de que ela não estava onde nós a víamos... Distância, exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente? Por onde erraria a verdadeira Cecília...“

A solidão é a serpente do paraíso que me seduz se contornando entre as folhas da arvore do conhecimento, enquanto eu não comer todas as maçãs, não procurarei para mim nenhum Adão a não ser que este já tenha experimentado o fruto proibido do conhecimento antes de mim....
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