Por que tenho saudades
de você, no retrato,
ainda que o mais recente?
E por que um simples retrato,
mais que você, me comove,
se você mesma está presente?
Talvez por que o retrato,
já sem o enfeite das palavras,
tenha um ar de lembrança.
Talvez por que o retrato
(exato, embora malicioso)
revele algo de criança
como, no fundo da água,
(um coral e, repouso).
Talvez pela idéia de ausêcia
que o seu retrato faz surgir
colocado entre nós dois
(como um ramo de hortência).
Talvez porque o seu retrato,
embora eu me torne oblíquo,
me olha sempre de frente
(amorosamente).
Talvez porque o seu retrato
mais se parece com você
do que você mesma (ingrato).
Talvez porque, no seu retrato,
você está imóvel (sem respiração...)
Talvez porque todo retrato
é uma retratação...
Cassiano Ricardo
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