Marianne
















O silêncio fala mais alto agora, não temos motivos para sermos estranhos um ao outro, essa vida é única e única é a certeza de que iremos morrer, mas vivemos como imortais... Eu me assustei com sua face, você sabia melhor que eu que no final destruímos aquilo que mais amamos. Pegue na minha mão e vamos terminar com esse jogo, cada um do seu lado e um adeus abrindo um abismo entre nós... Você está tão estranho que nem consegue mais disfarçar, mas eu estou bem, tudo o que eu precisava eu tenho em mãos. Mais uma xícara de café meu caro, preciso de muita cafeína para acordar desse pesadelo e fingir que tudo está bem, sorrir e acenar como se eu fosse perfeita, pois eles estão cobrando a sua perfeição e é só isso que todo mundo procura um no outro: a perfeição. Queria estar do seu lado, mas quando lembro do que eu passei, eu me envolvo numa bolha e me isolo do mundo... Queria que essa vida acabasse logo.
Marianne


"Nós éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro. Mas está bem que seja assim, e não vamos ocultar e obscurecer isto, como se fosse motivo de vergonha. Somos dois navios que possuem, cada qual, seu objetivo e seu caminho; podemos nos cruzar e celebrar juntos uma festa, como já fizemos – e os bons navios ficaram placidamente no mesmo porto e sob o mesmo sol. Parecendo haver chegado ao seu destino e ter tido um só destino. Mas, então, a todo-poderosa força de nossa missão nos afastou novamente, em direção a mares e quadrantes diversos, e talvez nunca mais nos vejamos de novo – ou talvez nos vejamos, sim, mas sem nos reconhecermos: os diferentes mares e sóis nos modificaram! Que tenhamos de nos tornar estranhos um para o outro é da lei acima de nós: justamente por isso deve-se tornar mais sagrado o pensamento de nossa antiga amizade! Existe provavelmente uma enorme curva invisível, uma órbita estelar em que nossas tão diversas trilhas e metas estejam incluídas como pequenos trajetos – elevemo-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é muito breve e nossa vista muito fraca, para podermos ser mais que amigos no sentido dessa elevada possibilidade. – E assim crer em nossa amizade estelar, ainda que tenhamos de ser inimigos na Terra".

(Nietzsche, A Gaia Ciência, aforismo 279)
Marianne



Há pessoas que são tão doentes por serem sozinhas, por não terem com quem compartilhar sua vida, que qualquer lixo que apareça na frente, que dê alguma oportunidade – já fica comendo na mão.

Pessoas que não são capazes de viverem consigo mesmas, sempre estarão com más companhias.
Abandonam os amigos e se tornam escravos, se mandarem comer merda, come!

Lembro certa vez de madrugada quando você jogou o carro na frente de um caminhão, eu não senti medo, porque confiava em você, e naquele dia eu não errei, mas depois eu pensei e vi o tamanho do risco que eu corri ao seu lado.

Sabe, é difícil me aturar, mas você já parou pra pensar no que eu já te aturei? Nos riscos que eu corri ao seu lado e ainda sim permaneci saindo contigo? Consegue ver a gravidade das coisas?

Se você está amando, tudo bem, é seu direito, mas isso não justifica o fato de você me ignorar como se nunca tivéssemos nos conhecido... Eu pedi desculpas, mas você não as aceitou, isso significa o quão manipulado você está sendo e eu lamento muito por isso, porque nunca imaginei que aquela pessoa que eu chamava de amigo fosse se tornar um cachorrinho de estimação de uma qualquer que surgiu do nada, se fazendo de coitada, que para mim não passa de uma interesseira barata que quer aproveitar de você até enjoar, até ver que não precisa mais de você.

Talvez tivesse que ser assim mesmo... Eu reconheço os meus erros, não fico lamentando e jogando na cara tudo o que você fez de ruim para mim, porque eu considero as coisas boas, já você pouco se importa com o que eu já suportei de você.

Espero que quando você enxergar a gravidade das coisas, não seja tarde demais, pois não vou esperar a vida toda pelas suas desculpas.
Marianne
Essa vai especialmente para um certo individuo imbecil!


ONE OF THOSE GIRL - AVRIL LAVIGNE
 
Eu conheço o seu tipo de garota
Que você apenas se importa com uma coisa
Com quem você tem visto ou onde você tem estado
Quem tem dinheiro

Eu vejo aquele olhar nos seus olhos
Ele diz milhões de mentiras
Mas profundamente eu sei o porque
Você está conversando com ele

Eu sei tudo sobre você
Eu realmente espero que ele descubra

Ela é uma daquelas garotas, nada além de problemas
Apenas um olhar e agora você está vendo em dobro
Antes que você possa perceber, ela terá ido embora
Partindo pro próximo

Ela é tão boa que você não vê isso chegando
Ela lhe levará para um passeio e você será deixado sem nada
Você estará destruído, ela terá ido embora
Partindo pro próximo

Ela será o fim de você
Pelo menos é o que dizem
Já faz um tempo, você está em negação
E agora é tarde demais

A aparência dela faz você ficar alterado
Todos os sinais de aviso
Porque o seu cabelo loiro, seus olhos azuis
Fazem você querer morrer

Eu sei tudo sobre ela
Eu realmente espero que você descubra

(...)

Você sabe que isso é um jogo, você sabe que isso é um jogo
Ela continua brincando com sua cabeça
Brincando com sua cabeça

(...)

Ela é tão boa que você não vê isso chegando
Ela lhe levará para um passeio e você será deixado sem nada
Você estará destruído, ela terá ido embora
Partindo pro próximo

Partindo pro próximo
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Marianne



Nunca fui boa em lidar com as pessoas, quando eu era criança eu queria ser tudo, menos criança e por isso andava só no meio dos adultos... Cresci como os adultos: ciumentos, egoístas e manipuladores.

Nunca soube lidar com as pessoas, volto a repetir isso, pois é como se eu carregasse essa culpa, pois sou radical nas minhas palavras quando estou chateada ou nervosa e por fim acabo afastando as pessoas que eu gosto... O medo de tê-las longe de mim faz com que eu as afaste definitivamente.

Tenho várias personalidades e elas se confundem em si, se alternam e isso me prejudica.

Mas eu tive que destruir com tudo, era a lei a cima de mim, sou sempre eu a correr atrás das pessoas, ouvi-las que querem se matar, que não sabem mais como viver, e eu ali segurando sempre como se tivessem a beira de um precipício, e quando sou eu que estou nesse precipício? Quem segura minhas mãos? Será que alguém me entende?

Quando as pessoas estão felizes elas não irão lembrar de você... Isso eu descobri de uma forma dolorosa.

Vou permanecer na solidão, eu cresci dessa maneira, é o que sou e não existe a hipótese de mudanças, pois essa já é minha essência.

Seja como for, não irei mais incomodar.
Marianne
Marianne
Marianne
Marianne
Marianne
Marianne
Apologias não irão te salvar, a vida não quer o seu suor, a vida não quer o seu trabalho, a vida não quer teu egoísmo, a vida quer o que eu tenho para te oferecer: amor!
Porque tenho andado pela mesma calçada que você e você mudou de lado? Quando te digo oi eu sinto que estou falando com um fantasma, me diga se te amar foi um pecado e assim poderás levar a minha redenção, a minha confissão de um crime, de uma banalidade.
Me crucifiquem, bebam o meu sangue e minhas lágrimas, porque eu amo e não consigo parar, és o meu veneno e a minha cura e por isso quero gritar essa dor que me separa de você.
Tire suas luvas, quero sentir o calor das suas mãos na minha pele, quero sentir o ar que sai dos seus pulmões como flores de primavera caindo pelo chão.
Olha para as minhas mãos e elas estão vazias enquanto a suas estão cheias, eu não pedi para crescer dessa maneira, eu não pedi para existir e muito menos para te conhecer, então o que devo fazer para me livrar de você?
Marianne
Marianne
Marianne


Já amanheceu e eu não quero ver a luz do sol
Dias que passam, noites em claro
E eu, eu estou presa na sua imagem
Ainda lembro do seu rosto delicado sem nenhuma expressão
Mas parecia que cumpriu todas suas missões
Estavas tão gelada como quem não quisesse partir
Eu toquei sua face, beijei sua testa, toquei suas mãos
Gelado, tudo estava tão gelado...
E quando chegou a hora de partir meu coração se quebrou
Eu te idolatrava como uma deusa
Mas você partiu e não retornará
Como uma pluma se perdendo no ar
Foi assim que você partiu
Sinto sua falta, sinto falta dos seus conselhos...
Sinto falta do seu sorriso e da sua braveza
Agora tenho que me adaptar com a ausência
Agora tenho que me adaptar com o seu silencio
Me salve aonde você estiver
Preciso da sua ajuda porque estou me afogando nesse poço
E meu coração se perdeu na escuridão
Me ajude onde quer que esteja
Minha querida vovó...
Marianne



Oh querido você não vê o quanto estou sofrendo
Eu sou uma idiota por você, uma idiota cega
Você me contagiou com o que você é
Me diz como eu faço pra mandar você embora
Sinto a vibração daquela musica ecoando pelo meu corpo e pela minha mente
Você me trata como a pessoa mais superficial que já conheceu
Para que tanta leviandade com quem te ama tanto?

As estrelas estão brilhando por nós
E o cosmos está girando deixando tudo de cabeça para baixo
Você roubou meu eixo, o meu equilíbrio e agora age como se eu não tivesse existido
Dia e noite você está preso na minha cabeça
E eu não sei o que fazer para te tirar daqui

Parecia ser fácil te abraçar e dizer adeus
Eu poderia ser mais do que você precisava
Eu só quero uma chance para mostrar o que você deixou para trás
As cachoeiras desabam em cima de mim e você está feliz
Super fonte de egoísmo e ganância de distancia de mim

Noite e dia você está poluindo meus pensamentos
Como um buraco negro sugando toda minha energia
E tudo está virando de cabeça para baixo
Nesse martírio de pensar em você
Me ensina a te mandar embora da minha cabeça!
Marianne


Eu pensei que seria fácil, parecia ser simples te deixar partir
Até que vi sua silhueta desaparecendo na multidão
Todas as minhas armaduras se quebraram
Todas minhas armas desapareceram
E eu me vi desprotegida diante de tudo e todos
Aconteceu muito rápido e nem notamos
Que as folhas secam no outono
E as memórias salientam-se cada vez mais
E as cicatrizes na minha pele vão se rompendo novamente
Eu queria conseguir te deixar partir
Você era muito para mim e eu percebi isso cedo
Quando éramos apenas amigos
Eu reconheço o meu lugar diante de você
E isso me machuca cada dia
Volta e me faça te odiar, me faça ter nojo de você
Pois só assim poderei ser livre para amar novamente
Marianne
Você já sentiu como se estivesse numa camada fina de gelo?
Você tem a certeza de que tudo irá trincar e você irá cair
Mas você continua, pois cada passo é um avanço mesmo correndo riscos
Estamos prestes a deslizar nessas águas frias antes do sol nascer
Me leve a algum lugar onde eu possa sentir que sumi
Me leve a algum lugar onde o inverno é mais frio
Eu quero um campo vazio pra gritar com todo meu pulmão
Gritar que amo você e sentir isso ecoando numa reação em cadeia
Quero vibrar todos os meus sentimentos em palavras
E acordar o mundo para o amor, para o nosso amor...
Marianne
Lembro do seu olhar tentando me dizer que queria que eu pedisse pra você ficar
Chegou tantos outonos e eu fiquei sozinha pegando as folhas secas no chão
Apenas me guarde dentro do seu coração, pois é lá que quero ficar
Quando o sol se por e não tiver mais ninguém por nós
Eu me lembro que você engoliu suas lágrimas para se fazer de forte
Eu estive lendo sua alma enquanto você dormia a noite
Pela manhã seus olhos abriam suavemente com o nascer do sol
Você esqueceu algumas bagagens antes de partir
Furou uma alma que vive a sangrar tentando ligar os pontos
Está em seus olhos toda a beleza
Então olhe pra mim e veja que o que você deixou foram apenas pegadas
E eu as sigo, eu as sigo, pois elas me levaram até você um dia
E antes que tudo acabe estaremos juntos vendo a primavera passar...
Marianne

TEMOR E TREMOR
(O paradoxo da fé)


Na obra Temor e Tremor, Kierkegaard usará do pseudônimo Johannes de Silentio. O uso de Silentio, ou seja, “silêncio” é referente a alguém que não consegue ter, como Abraão, outra atitude a não ser ficar em silêncio diante do paradoxo da fé e de sua família; Abraão ficou em silêncio após a ordem de Deus para sacrificar seu filho Isaac, porque estava preocupado pelos temores do pensamento; o pseudônimo é proposital a causa.

Abraão (em hebraico: אברהם, Avraham ou ’Abhrāhām) é um personagem bíblico citado no Livro do Gênesis a partir do qual se desenvolveram três das maiores vertentes religiosas da humanidade: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.

“Deus pôs Abraão à prova e disse-lhe: toma o teu filho, o teu único filho, aquele que amas, Isaac; vai com ele ao país de Morija e, ali, oferece-o em holocausto sobre uma das montanhas que te indicarei.” (Kierkegaard, 1943, p. 113)

De início Kierkegaard propõe quatro situações diferentes que Abraão poderia ter passado diante da prova que Deus o colocou, ou seja, as possibilidades de resposta de Abraão ao pedido de Deus.

“Vale mais que me julguem um monstro do que perca a fé em ti” (Kierkegaard, 1943, p.114)

Na primeira situação há a saída de Abraão para o monte de Morija, onde aconteceria o sacrifício e o seu silêncio por todo o caminho. Isaac não compreendia nada do que estava acontecendo, pois só a fé é capaz de entender, é o paradoxo!

Na segunda versão Abraão volta do sacrifício e, após o retorno, envelhece rapidamente. Ele perde o brilho dos olhos. Enquanto isso, Isaac vai crescendo. Abraão não consegue se esquecer do que Deus havia lhe pedido, viveria então na dúvida sentimental entre Isaac e Deus.

Na terceira versão, após o sacrifício, Abraão pede perdão a Deus por ter pensado em sacrificar Isaac, objeto do seu amor. Ele lamenta por ter se esquecido do seu dever paternal para com o filho.

Na quarta versão Abraão e Isaac vão para o local do sacrifício, o monte Morija, em completa concordância e sem guarda de silêncio. No momento do sacrifício, Isaac nota o medo de Abraão; e por isso perde a fé.

Então Kierkegaard irá chamar Abraão de “o herói da fé”:

“Porque aquele que se amou a si próprio foi grande pela sua pessoa; quem amou a outrem foi grande dando-se; mas o que amou a Deus foi o maior de todos. (...) houve grandes homens pela sua energia, sabedoria, esperança ou amor – mas Abraão foi o maior de todos: grande pela energia cuja força é fraqueza, grande pelo saber, cujo segredo é loucura, pela esperança cuja forma é demência, pelo amor que é ódio a si próprio.” (Kierkegaard, 1943, p.117-8)


Mas o “herói da fé” enfrenta um problema complexo com a ética, pois segundo a ética, Abraão quer matar e por isso é denominado como um assassino, porém já na religião ele faz um sacrifício e por isso é um homem de fé. É o sacrifício que designa o caminho entre ética e religião, ora de um lado temos um assassino e de outro um homem da fé, mas afinal, Abraão é conhecido pela sua fé e não pela sua razão, pois pela razão não se mata em certos casos por assim dizer, mas pela fé sim, por isso é um absurdo a fé, um paradoxo que nos leva a refletir sobre o valor de uma vida.

O filósofo Albert Camus dirá que “julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à pergunta fundamental da filosofia.” Então surge a questão: qual o valor da vida de um filho para um pai? Camus dirá:

“Galileu, que sustentava uma verdade científica, abjurou dela com a maior tranqüilidade assim que viu sua vida em perigo. Em certo sentido, fez bem. Essa verdade não valia o risco da fogueira. É profundamente indiferente saber qual dos dois, a Terra ou o Sol, gira em torno do outro. Em suma é uma futilidade.” (Camus, 1948, p. 19)

Supõe-se que a fé de Abraão era a Verdade para ele, e essa Verdade era intermediaria entre ele e seu deus, mas se ele abandonasse essa Verdade como Galileu abandonou? E se ele tivesse seguido a terceira hipótese que Kierkegaard lança:

“A tarde estava tranqüila quando Abraão se achou sozinho em Morija. Rojou-se na terra e pediu perdão a Deus pelo seu pecado, perdão por ter querido sacrificar Isaac, perdão por ter esquecido o dever paternal para com o filho. Tomou, de novo, com mais freqüência o solitário caminho da montanha, mas não encontrou repouso. Não podia conceber que pecara por ter querido sacrificar o seu mais precioso bem, por quem teria oferecido a vida mais de uma vez; e, se pecara, se nunca amara Isaac a tal ponto, não podia compreender como merecer o perdão de Deus – haverá, com efeito, mais horrível pecado do que o seu?” (Kierkegaard, 1943, p.115)

Kierkegaard escreveu certa vez a seguinte frase: “busco uma verdade que seja verdadeira para mim, a idéia pela qual eu possa viver e morrer”, essa frase reflete bem a admiração que Kierkegaard tinha por Abraão. Ter fé é ter uma idéia sobre algo da qual você viveria e morreria, mas nesse caso – mataria.

A fé é absurda porque nela tudo pode e esse caminho é um verdadeiro salto. Um homem pode ter fé, mas jamais fazer isso por outro homem, a fé é um fator individual. Para Kierkegaard a fé não é estética e nem instinto imediato do coração, mas um absurdo da vida, um paradoxo. Segundo nosso autor, fé significa recebimento e não renúncia.

Marcio Gimenes de Paula, doutor em filosofia pela Universidade Estadual de Campinas dirá que: “Nosso autor não vai interessar aqui pelo oculto do cômico, antes deseja desenvolver o oculto na estética e na ética para, dessa forma, mostrar a absoluta diferença entre o oculto estético e o paradoxo: “Assim, a estética exigia o oculto e recompensava-o; a ética exigia a manifestação e punia o oculto” (Kierkegaard, 1979, p. 162)”

Abraão não está na situação do herói trágico que deve escolher entre valores subjetivos (individuais e familiares) e valores objetivos (a cidade, a comunidade), como no caso da tragédia grega. Nada está em jogo, a não ser ele mesmo e a sua fé. Deus não está testando a sabedoria de Abraão, da mesma forma como os deuses testavam a sabedoria de Édipo ou de Agamenon. A força de sua fé fez com que Abraão optasse pelo infinito.

“Apesar de tudo Abraão acreditou e acreditou para esta vida. Se a sua fé se reportasse à vida futura, ter-se-ia, com facilidade, despojado de tudo para sair prontamente dum mundo a que já não pertencia.
Mas Abraão acreditou jamais duvidar. Acreditou no absurdo.” (Kierkegaard, 1943, p.120)


O que é então o absurdo? É dar o salto cego da fé, e esse salto não se reflete, não se questiona, ele salto é o próprio paradoxo, pois rompe com qualquer princípio ético pelo infinito, pelo intemporal, pela contemplação da beleza irracional da fé.

Quando Kierkgaard diz que Abraão acreditou sem duvidar e acreditou no absurdo, ele descreve perfeitamente o que é a fé. Num ponto de vista estético podemos representar da seguinte maneira: Deus falava diretamente com Abraão, e Abraão o contemplava, tal contemplação caminhava intencionalmente à beleza celeste, ao sublime e ao divino, por isso era inquestionável a fé de Abraão, pois remeter o seu querido filho ao sacrifício por uma entidade pertencente ao divino, permanecendo em silentio sem demonstrar qualquer desespero externo/interno, ele era realmente o pai da fé!

“Mas ele jamais duvidou, não relanceou o olhar à direita e à esquerda, não importunou o céu com súplicas”. (Kierkegaard, 1943, p.121)


Mas Kierkegaard dirá que

“Deus é amor; este pensamento tem, para mim, valor lírico fundamental. Presente em mim a certeza, sinto-me inefavelmente ditoso; ausente, suspiro por ela muito mais ansiosamente do que a amante pelo objeto do seu amor; mas não tenho fé; não tenho essa coragem.” (Kierkegaard, 1943, p.127)

Mas a concepção de que Deus é amor, surge depois do cristianismo, ou melhor, surge com o cristianismo, portanto o Deus de Abraão era um Deus que agia diretamente com seus servos. Se a idéia de que Deus é amor, Abraão jamais teria colocado seu filho ao sacrifício, por amor ao seu filho e não ao seu Deus, pois o amor não mata, o amor não machuca, não vinga, o amor no cristianismo é o amor de vida e não de morte, considerando a crença cristã de que Cristo morreu para salvar nossos pecados, e assim por diante.

Para finalizar esse raciocínio deixo uma reflexão de Kierkegaard sobre a fé:

“Pela fé, a nada renuncio; pelo contrário, tudo recebo, e, o que é mais notável, no sentido atribuído àquele que possui tanta fé como um grão de mostarda, porque então poderá transportar montanhas. É necessário uma coragem puramente humana para renunciar a toda temporalidade a fim de ganhar toda eternidade; mas elo menos conquisto-a e não posso, uma vez na eternidade, renunciar a ela sem contradição. Porém torna-se indispensável a humilde coragem do paradoxo para alcançar então toda a temporalidade em virtude do absurdo, e esta coragem só a dá a fé.” (Kierkegaard, 1943, p.137)