Marianne


No fim da tarde resolvi arrumar minhas coisas para o início do período facultativo amanhã; então voltei a usar minha antiga maleta e minhas pastas, embora elas sejam mais pesadas que uma mochila, elas são boas para conservar os livros. Mas que importância há nesse detalhe? Não há uma importância, há uma nostalgia... Como todo começo de agosto, aquele frio gelado e um vento agitado começam anunciar mudanças; lembro do último ano do meu mestre na universidade, as noites em que eu ficava esperando a conclusão da aula dele para discutir novas idéias e atividades com os alunos, sempre insistia de uma forma ou de outra sobre a capacidade dele de escrever um livro, mas todos são tão egoístas, que mesmo que eu jurasse que um livro do mestre era algo valioso que eu poderia ter, parecia ser algo só da boca pra fora...


Mas me veio à tona o primeiro dia que conversamos... O senhor com uma fisionomia juvenil me fez duvidar da sua capacidade de ensino, depois dessa experiência aprendi a não julgar sem antes conhecer e conviver. Ouvia com toda atenção cada história e reflexão embaraçada que eu fazia, sempre me dando espaço para conversar e em seguida corrigia meus erros de forma tão discreta. Era também tão criticado, mas o que mais me deixava curiosa era a forma que agia diante disso e das pessoas que não gostavam de ti, era tão silencioso, tão formal e gentil, mas ao mesmo tempo parecia ser forte como uma rocha, inabalável, inatingível... Sempre ajudando quieto e não divulgava, não tinha necessidade de ser reconhecido.

As pessoas sempre viam maldade em tudo, até que entendi que a frase “a malícia está nos olhos de quem vê”, tem realmente algum sentido. Cada um que apontava, apontava na verdade para um espelho. Mas o senhor nunca foi leviano com ninguém, parecia nunca perder a paciência e isso deixava todos eles com a ira á mil, até que desistiam por não saberem agir... Para eles era como dar murro na parede e ficar com as próprias mãos machucadas.

O tempo que convivi com o senhor, pude compartilhar na presença de um mestre, a presença de um pai, de um irmão e sobre tudo – um grande amigo. Me ensinou a suportar os obstáculos, me ensinou a ter postura, me ensinou a respeitar o pequeno da mesma maneira que o grande, o fraco, o forte, o corajoso e o covarde, afinal, todos irão ter a mesma coisa, assim como tiveram a vida, também terão a morte, será igual para todo mundo...

Peguei aquela carta que o senhor entregou para os seus pupilos, todo início de semestre eu a releio, pois sei que sempre esqueço uma coisa ou outra que é importante para a minha formação, mas a frase de João Guimarães Rosa que ali deixaste sempre me faz criar animo para recomeçar ou para continuar.

Agora se faz ausente, nossos relógios giram em horários opostos, não deixou nem por perto a sua sombra e eu não consigo tempo para procurá-la, mas deixou o que era o necessário: um bom exemplo. E sabe o que me deixa ansiosa, é saber que nesse novo silêncio que o senhor lançou, há – embora não tão longe – um bom homem á escrever o seu próprio livro.

Como estarei ausente devido o aumento das responsabilidades, pensei em escrever algo antes de estacionar meu cantinho de escrita aqui e sem querer escrevi sobre a passagem de um bom mestre.

Obrigada por ter acreditado na minha capacidade, estou fazendo o meu melhor para dar conta. Acredito fortemente também na sua capacidade de escrever uma boa obra que venha a ajudar e influenciar mais uma geração daqueles que ainda fazem alguma coisa para mudar a educação de tantos indivíduos que nos rodeiam.

Enfim, a gente se encontra nos corredores da vida por ai!

Guten abend!
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