Marianne

Faltam dois dias para setembro e noves dias para a data que sempre perturba minha mente, é a data cuja madrugada eu acordo, pego uma garrafa de vinho que comprei no dia anterior, especialmente para esse dia, desço ao quintal, me cubro com uma manta, estendo minhas pernas em um pequeno banquinho e degusto do gosto doce de uma data amarga. E se estou só, fumo um cigarro, como uma atitude da qual você desaprovaria... Vejo cada estrela sumir com a vinda do sol, e não consigo pensar em nada, apenas que há um silêncio perturbador em mim, fora de mim, em tudo o que há.

É o segundo ano que comemoro sozinha uma memória e seria o terceiro ano que talvez eu estaria comemorando contigo se você não escapasse pelos meus dedos, como escapou, viajando para um país ao qual eu não tinha capacidade de ir. Não gostaria de abrir mão de tudo o que conquistei depois da sua ida, também seria cômico se eu fosse atrás de você como um cão, com uma mão na frente e outra atrás, apenas um bicho de estimação sendo alimentado pelo seu dono, com um inglês que na época servia ao máximo para comprar uma água ou perguntar onde ficava o toalete...

Não sei se te amo ainda, depois de tantas coisas estudadas, entre elas filosofia da linguagem, semiótica, signos, psicanálise, a palavra “amor” já não tem o mesmo significado como quando eu era apenas uma criança que dormia no colo de seu noivo como se fosse um pai, que protegia de todo o mal, um delírio, um complexo de Édipo invertido talvez. Talvez eu sofria desse complexo... Mas afinal, quem não cria suas projeções?

Eu gostaria de saber como você está, éramos dois nerds se descobrindo, e isso era tão engraçado, embora você fosse quase dez anos mais velho que eu, você era tão cavalheiro, que às vezes fazia papel de criança para que eu não me sentisse infantil do seu lado, devido à diferença de idade. Entende o que tinha de especial em você? Essa humildade, como o dia que você veio visitar minha casa, que comparada a sua não era lá grande coisa, e eu falei pra você não reparar e você me respondeu que não namorava minha casa, nem beijava tijolos, que você namorava eu e isso era importante para você.

Um dia sei que você passará por aqui, e quando esse dia chegar, quero que leia apenas um pequeno texto que encontrei ao acaso no meio dos meus livros, tal texto trouxe a nossa situação como um furacão devastador... Sabe M. talvez eu não te ame, amor é algo forte demais, é muito romantismo, muita ilusão quando você sofre uma “lavagem cerebral” de conceitos.

Eu te contemplo, isso eu confesso, e contemplar é apenas olhar, não mexer, não alterar, apenas olhar, observar, nada, além disso... Contemplo-te numa febre, num delírio... Sabe, gostaria de ter nascido na mesma religião que a sua, mas essas coisas não escolhemos não é mesmo? Sei que sua família não me aceitou por causa disso, seus amigos me contaram... Mas não te culpo, nem culpo a eles, afinal, cada um tem sua realidade, não tenho direito algum de querer modificar isso.

Gosto de registrar alguns detalhes da nossa história, tenho uma memória péssima e sinto que tudo o que vivemos juntos está sumindo e tenho medo. Vou te guardar nessas linhas, nessas palavras, nesse texto melodramático e chato de ser lido até mesmo pelo próprio escritor...

O post á cima desse estará o texto que dedico com carinho a você, alguém que me ajudou a crescer como sujeito e a aprender perceber os objetos ao meu redor e defini-los com mais racionalidade... Bom, acho que isso é tudo que gostaria de expressar, sem intenção alguma, apenas escrever pra distrair um pouco... Não consigo finalizar isso de forma objetiva, desculpa.
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