Há 17 horas
Marianne
Declaração de amor
(na qual, porém, o poeta caiu num fosso)
Que maravilha! Ele ainda está voando?
Ele sobe e as suas asas repousam?
Que é que o levanta e carrega?
Qual é, para ele, a meta, o curso e o freio?
Como as estrelas e a eternidade
Vive ele agora em alturas de que a vida foge,
Tendo compaixão até mesmo da inveja —:
E voou alto quem apenas o viu planar!
Ó pássaro albatroz!
Para o alto me empurra um eterno impulso.
Pensei em ti: então me correram
Lágrimas e lágrimas — sim, eu te amo!
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Pág. 301
O tempo é bondoso comigo, o que mais posso querer? Talvez ser Deus, sim quero ser Deus, talvez eu seja, pois não acredito mais na minha própria existência.
Os dias correm, e a carne parece ter petrificado numa única forma e isso já é concreto á mais de cinco anos, nenhuma marca envelhecida do tempo, e o semblante infantil não me abandona, me deixando uma benção estética e uma maldição social, pois os intelectuais da maturidade excluem essa aparência, anulando juntamente o saber que ela esconde.
Estou na minha loucura mais louca, percebi que não sou capaz de partilhar da minha vida com outra pessoa, minha vocação filosófica anula o viver a dois, irei abandonar então minha Regine Olsen e depois viver o resto dos meus poucos dias escrevendo meus pesares nas entre linhas da minha filosofia, tentando alcançá-la... Até chegar o instante em que a verei pela última vez, você dirá para Deus me abençoar e eu erguerei gentilmente meu chapéu e nunca mais nos veremos depois dessa despedida.
Escreverei livros, muitos livros, serei um dos loucos do meu século ou do outro século, terei um rótulo que surgirá somente depois que minha época for varrida dessa terra, como sempre vemos repetir na história.
Irei falar sozinha, caminhar pelas praças e jardim conversando com meus próprios pensamentos, até minha loucura tornar-se uma ameaça para a sociedade, então me jogaram em um manicômio e ali talvez eu fique alguns dias.
Em breve não terei mais capacidade física e mental e a velhice irá me afogar, nos meus últimos passos estarei perdendo um xeque mate no asilo, com ira, jogarei o bispo e o rei na cabeça das enfermeiras. E em uma noite de lua cheia, na minha cidade coberta por neve, sentarei na varanda, em minha cadeira de balanço e o frio amenizará a flecha invisível lançada em meu peito e nada mais esperarei, nada mais terei a esperar a não ser um epitáfio bem criativo que nem quero imaginar!
Marianne
Hey, me diga como calar esse demônio que ruge, como consolar esse deus que chora e que residem juntamente em meu peito?
Hey estranho, não passe por mim, não olhe para mim por muito tempo, pois se houver um abismo em seus olhos – eu olharei de volta para eles...
Esse perpétuo ideal me devorando... E ainda estou na dúvida: Por quem foi que me trocaram quando eu estava olhando você? Tenho uma nova certeza: Eu sou aquilo que perdi.
Mas me entenda, quando digo que nunca me vi nem acabei. Sabe, de tanto ser, só tenho alma... E quem tem alma não tem calma!!!! Eu só vejo o mundo como um mal me quer...
Nada tenho mais a declarar nesse instante, nessa soma de passado e futuro e por pensar nisso repito:
"Sou um futuro imaginado em um presente passado."
Marianne
Música: Carne
Sejamos o lobo, o lobo do homem,
Nos diz contemporâneo Caetano.
Sejamos o lobo, o lobo do homem,
Nova-iorquino, paulistano... Carioca, Soteropolitano.
Os caducos manuscritos doutrinam: Os índios são antropófagos.
Novos jornais publicam: Os brancos matam a carne indígena.
Nós homens nus, nus na cama, deglutimos a carne humana.
Nós homens nus, nus na cama, deglutimos a carne humana.
Macho ou fêmea... Fêmea ou fêmea,
Macho ou macho..Rico ou pobre.
Deglutimos a carne humana... Deglutimos a carne humana.
A cama nova e velha mesa de jantar.
Pêlos e medos no ar, ao Deus dará.
Carne... Carne... Ossos, meus ódios, ossos.
Pêlos, Selos, zelos, pêlos.
Sejamos o lobo, o lobo do homem... o lobo do homem
***
Bom mestre, compositor, músico, filósofo e sobretudo amigo. Essa música ele tocou para nós, seus alunos de filosofia, no encerramento do semestre passado, uma música que me comoveu muito.
Para ouvi-la segue o site: http://www.nunogeraes.mus.br/
Marianne
Em uma etapa da vida, quando retornamos á nossas memórias, não conseguimos obter os dados vividos tais como foram vividos naqueles conjuntos de instantes, muito alteramos, exageramos tanto na lembrança ruim como nas boas; é parte do homem exagerar, exagerar em si mesmo e no campo externo. Devido a isso não encontramos um passado tal como foi, são apenas árvores fazendo sombra na janela, criando formas imaginativas, que somem da concepção de uma simples árvore. A todo tempo tinha certeza de que via você no presente tal como era, tal como devia ser, mas se estou aqui, se estive lá, única coisa que conheci e tive acesso foi apenas a sua silhueta, e se ainda te visse novamente, ainda seria apenas a sua silhueta que se apresentaria a mim, a silhueta desaparecendo em um terminal cheio de plataformas, ônibus, cheio de rostos estranhos incapazes de cobrir o pouco que eu via de você: a sua silhueta.
Marianne
Nos devaneios vividos a dois, sempre houve a impossibilidade de sentir as coisas vividas de forma igual. Na inútil tentativa de ser o outro, terminamos sem sermos nós mesmos. Quando isso ocorre, surge o desamor, pois os enamorados contemplam um ao outro, não a si mesmos; quando o outro era ele mesmo, na mudança de personalidade e no desespero imanente de prender o objeto amado, acreditando que ser o outro, será eterno o caso, descobre-se que ser o espelho do outro nunca o fará ser seu eterno amante, pois a maioria não é capaz de amar a si mesmo ou uma cópia de si mesmo, em outros casos o espelho é motivo de desespero! – O que muito ocorre é que na idealização o sujeito almeja tornar-se o objeto.
Eis um dos motivos que alimentam a minha solidão: há de existir indivíduos que entendam que a condição humana é ser um ser completo e não uma metade, uma metamorfose de caos onde não se sabe mais definir-se sujeito ou objeto?
Marianne
Este instante exige silêncio, e por isso nenhuma reflexão
deve vir perturbá-lo, nenhum ruído de paixão quebrá-lo.
É como se eu estivesse ausente e, contudo,
é precisamente a minha presença que se encontra na
base da sua surpresa contemplativa.
As nossas naturezas estão em harmonia;
é em tal situação que uma jovem, tal como certas
divindades, é adorada no silêncio.
(Kierkegaard)
Do Blog da Mariana Klein
Marianne
Já é uma admiração e gosto infantil, adoro felinos e a natureza deles, vivo tirando fotos dos meus gatos (Nana, Nike e Branco), mas as vezes são tão orgulhosos que não param quietos! Vale a pena reler o que Freud escreveu sobre os gatos e seus donos: Professor Sabichano (para ler clique aqui)
Eis minhas crianças:
(Nike)
(Branco)
(Eu e o Nike - Olha o desprezo)
(Enfim Nana e seu olhar de "me deixa em paz!")
Eis minhas crianças:
(Nike)
(Branco)
(Eu e o Nike - Olha o desprezo)
(Enfim Nana e seu olhar de "me deixa em paz!")
Marianne
Devido ao ataque de riso surpresa que o dono desse blog me fez rir, ao modificar minha foto e colocar um sorriso nela, fica aqui como memória a imagem e a divulgação do blog (é sério, não consigo parar de rir). Ao menos minha dificuldade em rir em fotos tem solução agora, não é? hahaha
Marianne
Amizade estelar. – Nós éramos amigos e nos tornamos estranhos um para o outro. Mas está bem que seja assim, e não vamos nos ocultar e obscurecer isto, como se fosse motivo de vergonha. Somos dois barcos que possuem, cada qual, seu objetivo e seu caminho; podemos nos cruzar e celebrar juntos uma festa, como já fizemos – e os bons navios ficaram placidamente no mesmo porto e sob o mesmo sol, parecendo haver chegado a seu destino e ter tido um só destino. Mas então a toda-poderosa força de nossa missão nos afastou novamente, em direção a mares e quadrantes diversos, e talvez nunca mais nos vejamos de novo – ou talvez nos vejamos, sim, mas sem nos reconhecermos: os diferentes mares e sóis nos modificaram! Que tenhamos de nos tornar estranhos um para o outro é a lei acima de nós: justamente por isso devemos nos tornar também mais veneráveis um para o outro! Justamente por isso deve-se tornar mais sagrado o pensamento de nossa antiga amizade! Existe provavelmente uma enorme curva invisível, uma órbita estelar em que nossas tão diversas trilhas e metas estejam incluídas como pequenos trajetos – elevemos-nos a esse pensamento! Mas nossa vida é muito breve e nossa vista muito fraca, para podermos ser mais que amigos no sentido dessa elevada possibilidade. – E assim vamos crer em nossa amizade estelar, ainda que tenhamos de ser inimigos na Terra.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001. (pag. 189-190)
Faltam dois dias para setembro e noves dias para a data que sempre perturba minha mente, é a data cuja madrugada eu acordo, pego uma garrafa de vinho que comprei no dia anterior, especialmente para esse dia, desço ao quintal, me cubro com uma manta, estendo minhas pernas em um pequeno banquinho e degusto do gosto doce de uma data amarga. E se estou só, fumo um cigarro, como uma atitude da qual você desaprovaria... Vejo cada estrela sumir com a vinda do sol, e não consigo pensar em nada, apenas que há um silêncio perturbador em mim, fora de mim, em tudo o que há.
É o segundo ano que comemoro sozinha uma memória e seria o terceiro ano que talvez eu estaria comemorando contigo se você não escapasse pelos meus dedos, como escapou, viajando para um país ao qual eu não tinha capacidade de ir. Não gostaria de abrir mão de tudo o que conquistei depois da sua ida, também seria cômico se eu fosse atrás de você como um cão, com uma mão na frente e outra atrás, apenas um bicho de estimação sendo alimentado pelo seu dono, com um inglês que na época servia ao máximo para comprar uma água ou perguntar onde ficava o toalete...
Não sei se te amo ainda, depois de tantas coisas estudadas, entre elas filosofia da linguagem, semiótica, signos, psicanálise, a palavra “amor” já não tem o mesmo significado como quando eu era apenas uma criança que dormia no colo de seu noivo como se fosse um pai, que protegia de todo o mal, um delírio, um complexo de Édipo invertido talvez. Talvez eu sofria desse complexo... Mas afinal, quem não cria suas projeções?
Eu gostaria de saber como você está, éramos dois nerds se descobrindo, e isso era tão engraçado, embora você fosse quase dez anos mais velho que eu, você era tão cavalheiro, que às vezes fazia papel de criança para que eu não me sentisse infantil do seu lado, devido à diferença de idade. Entende o que tinha de especial em você? Essa humildade, como o dia que você veio visitar minha casa, que comparada a sua não era lá grande coisa, e eu falei pra você não reparar e você me respondeu que não namorava minha casa, nem beijava tijolos, que você namorava eu e isso era importante para você.
Um dia sei que você passará por aqui, e quando esse dia chegar, quero que leia apenas um pequeno texto que encontrei ao acaso no meio dos meus livros, tal texto trouxe a nossa situação como um furacão devastador... Sabe M. talvez eu não te ame, amor é algo forte demais, é muito romantismo, muita ilusão quando você sofre uma “lavagem cerebral” de conceitos.
Eu te contemplo, isso eu confesso, e contemplar é apenas olhar, não mexer, não alterar, apenas olhar, observar, nada, além disso... Contemplo-te numa febre, num delírio... Sabe, gostaria de ter nascido na mesma religião que a sua, mas essas coisas não escolhemos não é mesmo? Sei que sua família não me aceitou por causa disso, seus amigos me contaram... Mas não te culpo, nem culpo a eles, afinal, cada um tem sua realidade, não tenho direito algum de querer modificar isso.
Gosto de registrar alguns detalhes da nossa história, tenho uma memória péssima e sinto que tudo o que vivemos juntos está sumindo e tenho medo. Vou te guardar nessas linhas, nessas palavras, nesse texto melodramático e chato de ser lido até mesmo pelo próprio escritor...
O post á cima desse estará o texto que dedico com carinho a você, alguém que me ajudou a crescer como sujeito e a aprender perceber os objetos ao meu redor e defini-los com mais racionalidade... Bom, acho que isso é tudo que gostaria de expressar, sem intenção alguma, apenas escrever pra distrair um pouco... Não consigo finalizar isso de forma objetiva, desculpa.
Marianne
Traz-se dedicação, e pela navalha do desgosto e do descontentamento do que se ama o coração é dilacerado.
-Por que me feres?
-Porque te amo.
-Por que me amas?
-Porque és minha promessa de completude.
-Por que te completo?
-Por não ser o que sou.
-O que tu és?
-Forte.
-E o que sou?
-Frágil e fraco.
-Por que sou fraco?
-Porque me amas.
-Por que te amo?
-Porque te firo.
-Por que me feres?
-Por que te amo.
Retirado do Blog: Night Heaven

Marianne
Relendo “A Gaia Ciência” de Nietzsche, na tradução de Paulo César de Souza, acidentalmente abri em uma página [93] e um tema me deixou curiosa, que na leitura anterior não havia chamado minha atenção como agora, segue:
O desejo de sofrer. – Se penso no desejo de fazer algo, que incessantemente agita e estimula milhões de jovens europeus, incapazes de suportar o tédio e a si mesmos – compreendo que neles deve existir uma ânsia de sofrer algo, a fim de retirar do sofrimento uma razão provável para agira, para a ação. A aflição é necessária! Daí o clamor dos políticos, daí as muitas “crises” falsas, inventadas, exageradas, de todas as classes possíveis, e a cega propensão a acreditar nelas. Essa juventude requer que venha de fora ou se torne visível – não a felicidade, digamos, mas a infelicidade; e sua fantasia já se ocupa antecipadamente em formar um monstro a partir dela, para que depois possa combater um monstro. Se tais sequiosos de aflição sentissem dentro de si a força de interiormente fazer bem a si próprios, de fazer violência a si próprios, eles saberiam também criar interiormente uma aflição própria, pessoal. Então suas invenções poderiam ser mais refinadas e seus contentamentos poderiam soar como boa música: enquanto agora enche o mundo de seus gritos de aflição e muitas vezes, em conseqüência, do sentimento de aflição! Não sabem o que fazer de si mesmos – e desenham, portanto, a infelicidade de outros na parede: sempre necessitam de outros! E ainda e sempre de mais outros! – perdão, meus amigos, eu ousei desenhar minha felicidade na parede.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. - São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
Marianne

She's got a halo around her finger
Around you
(...)
She's not broken
She's just a baby
But her boyfriend's like her dad
Just like a dad
(...)
Don't wanna kiss
Don't wanna touch
Just smoke my cigarette and hush
Música: Alejandro
Cantora: Lady Gaga