Marianne

O tempo é bondoso comigo, o que mais posso querer? Talvez ser Deus, sim quero ser Deus, talvez eu seja, pois não acredito mais na minha própria existência.

Os dias correm, e a carne parece ter petrificado numa única forma e isso já é concreto á mais de cinco anos, nenhuma marca envelhecida do tempo, e o semblante infantil não me abandona, me deixando uma benção estética e uma maldição social, pois os intelectuais da maturidade excluem essa aparência, anulando juntamente o saber que ela esconde.

Estou na minha loucura mais louca, percebi que não sou capaz de partilhar da minha vida com outra pessoa, minha vocação filosófica anula o viver a dois, irei abandonar então minha Regine Olsen e depois viver o resto dos meus poucos dias escrevendo meus pesares nas entre linhas da minha filosofia, tentando alcançá-la... Até chegar o instante em que a verei pela última vez, você dirá para Deus me abençoar e eu erguerei gentilmente meu chapéu e nunca mais nos veremos depois dessa despedida.

Escreverei livros, muitos livros, serei um dos loucos do meu século ou do outro século, terei um rótulo que surgirá somente depois que minha época for varrida dessa terra, como sempre vemos repetir na história.

Irei falar sozinha, caminhar pelas praças e jardim conversando com meus próprios pensamentos, até minha loucura tornar-se uma ameaça para a sociedade, então me jogaram em um manicômio e ali talvez eu fique alguns dias.

Em breve não terei mais capacidade física e mental e a velhice irá me afogar, nos meus últimos passos estarei perdendo um xeque mate no asilo, com ira, jogarei o bispo e o rei na cabeça das enfermeiras. E em uma noite de lua cheia, na minha cidade coberta por neve, sentarei na varanda, em minha cadeira de balanço e o frio amenizará a flecha invisível lançada em meu peito e nada mais esperarei, nada mais terei a esperar a não ser um epitáfio bem criativo que nem quero imaginar!
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