Postado por Paulo Coelho em 08 de abril de 2009 às 05:48
Uma vez, terminada a conferência em Brisbane, Austrália, saí do auditório para assinar os exemplares de meus livros. Como estava um lindo entardecer, os organizadores colocaram a mesa de autógrafos ao lado de fora do prédio da biblioteca.
As pessoas se aproximavam, conversavam, e mesmo tão distante de casa não me senti um estrangeiro: meus livros haviam chegado antes de mim, mostrando minhas emoções e sentimentos.
De repente, uma garota de 22 anos se aproxima, fura a fila de autógrafos e me encara:
“Cheguei atrasada para a palestra”, disse. “Mas gostaria de lhe dizer algumas coisas importantes.”
“Vai ser impossível”, respondo. “Devo ficar autografando os livros por mais uma hora, depois tenho um jantar”.
“Não vai ser impossível”, responde. “Meu nome é Kerry Lee Olditch. O que tenho a dizer posso fazê-lo aqui e agora, enquanto você assina”.
E antes que eu pudesse reagir, tirou de sua mochila um violino. Começou a tocar.
Continuei autografando por mais de uma hora, ao som da música de Kerry Lee. As pessoas não iam embora: ficavam assistindo àquele concerto inesperado, entendendo o que ela precisava me dizer, e que estava sendo muito bem dito.
Quando terminei, ela parou de tocar.
Não houve aplausos, nada: apenas um silêncio quase palpável.
“Obrigado”, eu disse.
“Tudo nesta vida é uma questão de dividir almas”, respondeu Kerry Lee.
E assim como chegou, foi embora.
P.S.
Naquela mesma noite, Kerry Lee apareceu no hotel com um grupo de amigos e seus instrumentos musicais. Fomos para a beira do rio que corta Brisbane. Passamos uma noite deliciosa, que terminou se transformando numa grande, mas distante, amizade entre a menina e o escritor. No dia 17 de março de 2001, recebi um e-mail de Andréa, amiga de Kerry Lee, dizendo que haviam descoberto seu corpo no meio do deserto australiano. Diagnóstico da morte: suicídio por overdose de pílulas para dormir. Andréa complementou o e-mail: “nunca a entenderam direito. Às vezes os anjos sentem-se demasiadamente solitários e desistem de continuar na Terra”.
Uma vez, terminada a conferência em Brisbane, Austrália, saí do auditório para assinar os exemplares de meus livros. Como estava um lindo entardecer, os organizadores colocaram a mesa de autógrafos ao lado de fora do prédio da biblioteca.
As pessoas se aproximavam, conversavam, e mesmo tão distante de casa não me senti um estrangeiro: meus livros haviam chegado antes de mim, mostrando minhas emoções e sentimentos.
De repente, uma garota de 22 anos se aproxima, fura a fila de autógrafos e me encara:
“Cheguei atrasada para a palestra”, disse. “Mas gostaria de lhe dizer algumas coisas importantes.”
“Vai ser impossível”, respondo. “Devo ficar autografando os livros por mais uma hora, depois tenho um jantar”.
“Não vai ser impossível”, responde. “Meu nome é Kerry Lee Olditch. O que tenho a dizer posso fazê-lo aqui e agora, enquanto você assina”.
E antes que eu pudesse reagir, tirou de sua mochila um violino. Começou a tocar.
Continuei autografando por mais de uma hora, ao som da música de Kerry Lee. As pessoas não iam embora: ficavam assistindo àquele concerto inesperado, entendendo o que ela precisava me dizer, e que estava sendo muito bem dito.
Quando terminei, ela parou de tocar.
Não houve aplausos, nada: apenas um silêncio quase palpável.
“Obrigado”, eu disse.
“Tudo nesta vida é uma questão de dividir almas”, respondeu Kerry Lee.
E assim como chegou, foi embora.
P.S.
Naquela mesma noite, Kerry Lee apareceu no hotel com um grupo de amigos e seus instrumentos musicais. Fomos para a beira do rio que corta Brisbane. Passamos uma noite deliciosa, que terminou se transformando numa grande, mas distante, amizade entre a menina e o escritor. No dia 17 de março de 2001, recebi um e-mail de Andréa, amiga de Kerry Lee, dizendo que haviam descoberto seu corpo no meio do deserto australiano. Diagnóstico da morte: suicídio por overdose de pílulas para dormir. Andréa complementou o e-mail: “nunca a entenderam direito. Às vezes os anjos sentem-se demasiadamente solitários e desistem de continuar na Terra”.
Postar um comentário