Então a jovem com aparência de um poltergeist, se vê diante de uma situação que ela mais odeia - a situação da paixão.
Resolve escrever uma carta, mas não encontra em si o mesmo romantismo que tinha, antes de conhecer o que seus livros velhos e cheios de poeira ensinavam, então teimou em continuar, mas achou rídiculas todas as suas palavras, porque ela entendeu que não escrevia para o ser amado, mas para si mesma.
Eis um trecho da decepção própria:
Caro G.,
[...]
Você não desperta o que é erótico, mas o que é essência. Talvez porque eu não confio na luxúria, nem sou dela uma escrava, para os praticantes sou menos humana por minha escolha, mas para mim – o ser mais importante no meu total egoísmo – me torno menos animal na ausência desse pecado. Por essa escolha ser uma luta individual, ela é travada desde o momento em que acordo, no momento que me dirijo ao leito e ela não se intervala nem nos sonhos quando durmo, o ser que domina seus próprios impulsos é um ser forte, eu chamo isso de virtude.
O amor é a essência da vida, somente quando ele existe em pureza e não pede por mutualidade, mas rapidamente sendo ele correspondido deixa de ser amor e se transforma em altruísmo, morre em si mesmo. Um amor silencioso dura uma vida e se deleita com o ser na cova; um amor livre é o tipo que todos desejam para si, mas não para outrem, por isso adoece; tem o amor santificado também que poucos conseguem explicar, como de um pelicano que sacrifica á si mesmo para satisfazer a fome de seus filhotes, ele é belo pelo simples fato de permanecer sendo amor, mesmo com atitudes altruístas, isso se torna um tanto cômico, como pode um amor tão incrível pertencer á classe dos animais também? Isso me deixa em dúvida da classificação humana, talvez instintos não devam ser tão negados assim, mas eu não coloco mais minhas mãos para queimar nesse tipo de fogo.
[...]
Com carinho R.M.
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