Marianne
Sempre costumo deixar esse blog como uma fonte de armazenamento das coisas que gosto, seja leituras e trabalhos pessoais ou letras de músicas e reflexões de outros blogs. Essa reflexão eu fiz após a leitura do livro de Santo Anselmo, estava relendo aqui e me lembrei da sensação que senti quando li no semeste passado essa obra. Segue o escrito:


SANTO ANSELMO DE CANTUÁRIA

MONOLÓGIO E PROSLÓGIO


Santo Anselmo, ao escrever o Monológio, direcionado ao arcebispo Lanfranco de Canterbury, tinha como objetivo transmitir através da sua reflexão por vias sensíveis e racionais, uma concepção lógica sobre a existência de Deus.

Sua obra é merecedora de uma profunda análise que nos leva a uma contemplação ao exercício filosófico feito por Anselmo, enfrentando questões sobre assuntos complexos de se chegar á um raciocínio convencional, como a fé, o nada, o tudo, a própria razão e a existência de uma natureza superior a tudo o que existe, assim como a própria criação dessa natureza.

A pessoa que, desejando para si todas as coisas que julga ser boas para si, em determinado momento irá buscar a fonte que produz tudo o que é bom, nessa busca será capaz de descobrir que as coisas que eram ignoradas de forma irracional, poderão ser compreendidas pela razão, é assim que, a partir desse pensamento Santo Anselmo inicia seus escritos.

Todas as coisas possuem em si algo bom, embora em quantidade maior ou menor, essa coisa boa é igual na fonte que a criou. Quando comparamos as coisas entre si, descobrimos que dois seres podem ter a mesma coisa boa em si, mas o mau uso dessa coisa boa no ser é que a torna mal, como Anselmo cita um exemplo, usando a força e a velocidade de um cavalo como uma virtude nele, e a força e velocidade como algo ruim em um ladrão. Devido a isso fica claro que, as coisas boas não são boas por si mesmas, mas por uma natureza superior a tudo o que existe e que é boa por si mesma.

A dialética de Anselmo sobre a existência das coisas fica da seguinte maneira, tudo o que existe ou provém de algo ou deriva do nada. Mas o nada não pode gerar coisa alguma a não ser o próprio nada, somente algo pode gerar algo, mas então tudo o que existe só pode existir se for gerado por algo, mas como algo pode surgir por si mesmo sem sair do nada?

Anselmo então elabora diversas hipóteses sobre o surgimento de tudo, sendo elas: as coisas surgirem de um início, por si mesmas, ou mutuamente. Mas as coisas não existem de forma mútua, pois um ser não pode gerar outro ser e de maneira inversa a isso, também as coisas não surgem cada uma por si mesma, pois se surgem, elas saem de uma fonte que tem a capacidade de surgir por si mesma onde todas as demais coisas surgem por si mesmas. Se todas as coisas surgem dessa causa, elas são menores que essa causa, pois tudo o que origina-se de outra coisa é menos que a causa que a produz.

“Conclui-se, assim, que deve haver um ser perfeitamente bom e grande; enfim, superior a todas as coisas, quer se denomine ele essência, substancia ou natureza.” (p. 17)

Enquanto todas as coisas procedem dessa natureza, essa natureza procede de si mesma e por isso torna-se superior e única a tudo o que há.

Para uma compreensão melhor, Anselmo usa de uma analogia da existência dessa natureza como a existência da luz, da relação que há em lux, lucere, lucens com a relação em essentia et esse et ens. Pois a luz ilumina, iluminando por si e de si, dessa maneira pode-se entender essa natureza suprema.

O que se pode pensar então dessa substância? Ela é existente em toda parte? Ela se encontra em todas as coisas e por todas as coisas, e todas as coisas existem dela, por ela e nela. Seguindo o pensamento, ela não tem um inicio e nem um fim, pois ela não se limita em um principio e nem em um fim e nada existiu antes dela e nada existirá depois dela, pois o nada não a precedeu e nem será posterior a ela de maneira alguma.

Mas a diante, Anselmo trata em referir-se a fé nessa natureza suprema, que assim como a fé opera pelo amor revela-se viva, mas a fé inativa, revela-se morta, ou seja, a fé viva consiste em crer naquilo em que se deve crer; e que, ao contrário, a fé morta é crer somente aquilo que se deve crer.

Essa natureza suprema é, portanto Deus, que não é somente Deus, mas o único deus, inefavelmente trino e uno.

No Proslógio, Anselmo trata de definir Deus da seguinte maneira: Deus é "do qual nada maior pode ser pensado", em outras palavras, ele é um ser tão grande, que não se pode sequer conceber um ser que seria maior do que Deus. O que é entendido existe no entendimento, assim como o plano de uma pintura que ele ainda tem que executar já existe no entendimento do pintor. Então, que além do qual nada maior pode ser pensado existe no entendimento. Mas se ele existe no entendimento, deve também existir na realidade. Portanto, se nada mais do que isso pode ser pensado que só existia na compreensão, seria possível pensar em algo maior do que ele (ou seja, que mesmo sendo existentes na realidade também).

Conclui-se que Ele é o que é, e será para sempre, seja no plano sensível, no plano inteligível, no plano material, incompreensível ou inatingível, no pensamento ou na realidade, ele é. Ele é inteiro em toda parte e a eternidade Dele é inteira e imperecível.


BIBLIOGRAFIA:


ANSELMO, de Cantuária. Monológio; Proslógio. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
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