Marianne


Haviam preparado para nós um jardim decorado pelo outono, mas com o perfume da primavera. Ali tinha um colchão de folhas e o céu estrelado era iluminado por estrelas de ouro. Nossa lua era de diamante e a brisa era composta por notas harmônicas jamais ouvidas. Era o lugar que adormecia nosso amor, um amor cuja existência foi preso no paraíso da nossa imaginação, sem nunca poder pertencer à realidade. Ele era, era, pois já não mais é; era tão grande que não cabia nesse universo, então matou a si mesmo com o fel da sua covardia, afogou a si mesmo no lago, como Narciso, deixando as águas cristalinas verterem em um vermelho jamais visto. E o céu de tão aflito cobriu com nuvens todas as estrelas para não deixá-las ver o horrível crime que acontecera embaixo de si. E a melodia da brisa chorava a despedida daquilo que a inspirava. Sem o nosso amor, o caos passou a deformar o cenário mitológico, até o próprio inverno cobriu de neve tudo o que viu, na tentativa de congelar o próprio tempo para que aquilo não agravasse mais. E abriu-se então um abismo, cuja existência é a ausência do amor morto, um abismo sem ponte, um abismo que não se atravessa, pois não há mar para navegar por baixo dele, nem um céu para voar. Na morte do amor, o que era se torna nada, o tudo é agora nada.
2 Responses
  1. Anônimo Says:

    Esse texto é de sua autoria?

    Tania


  2. Marianne Says:

    Olá, sim é de minha autoria.

    Abraços


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